O RPG de mesa muitas vezes é definido como um jogo de contar histórias. Logo, conceitos relacionados a narrativa podem ser totalmente aproveitados na criação e condução de aventuras.
Vamos conversar um pouco nesse artigo sobre como a narrativa se relaciona com o RPG e conceitos importantes que você já deve incorporar nas suas aventuras para ter jogos cada vez melhores.
Sumário
Falando um pouco sobre narrativa
Uma narrativa pode ser definida como qualquer relato de uma série de eventos ou experiências relacionadas. Essa definição se encaixa perfeitamente em aventuras de RPG, já que estamos sempre vivendo eventos na forma de cenas e encontros, sejam combates, exploração de locais ou interações diplomáticas entre personagens.
Uma curiosidade é que a narrativa acompanha os seres humanos em todas as culturas, sendo um agente ativo para moldar a própria identidade de povos. Somos contadores de histórias natos, o que facilita na hora de criar nossas sessões RPG. Porém, a teoria se faz bastante necessária para aprimorarmos nossa capacidade de criar boas histórias.
Muitas vezes o mestre do jogo é chamado de narrador, apesar da voz narrativa também ser utilizada pelos jogadores, tornando esse termo um pouco errôneo. Após ler esse artigo, você vai notar que o título de narrador é bem distribuído entre todos que estão jogando o RPG, portanto leia até o final.
Tipos de narradores no RPG
Dependendo de quem está narrando uma determinada cena na hora do jogo, pode-se obter resultados totalmente diferentes, alternando a percepção dos jogadores quanto ao que está acontecendo na história.
Existe uma separação básica entre a narrativa em primeira pessoa e a narrativa em terceira pessoa, chamados de modos narrativos. Quando descrevemos uma visão panorâmica no RPG, seja de uma cena ou do mundo do jogo, estamos tomando o papel de um narrador onisciente em terceira pessoa. Quando os personagens dos jogadores estão conversando entre eles ou com seus NPCS, nesse caso eles agem como narradores em primeira pessoa, relatando os sentimentos, opiniões e percepções de seus personagens na história.
RPG é uma experiência de múltiplos narradores
Normalmente, uma aventura de RPG, depois de jogada, acaba se tornando uma história contada de diferentes pontos de vista. Em alguns momentos o mestre descreve as cenas com uma voz fora do jogo, outras vezes usa os NPCs para relatar eventos, além dos jogadores contribuírem através dos seus personagens.
A narrativa no RPG precisa ter estrutura
De uma forma geral, a contação de histórias é um estilo de arte onde é importante se respeitar alguns elementos básicos para que seja possível prender a atenção e tornar o roteiro interessante.
Um dos conceitos mais básicos é que uma narrativa precisa de estrutura, com começo, meio e fim identificáveis. Um enredo coerente, ou seja, uma sequência de fatos que faça sentido, é essencial para tornar a experiência memorável. Além desses, outros elementos essenciais são:
- Narrador – Quem vai contar a história;
- Enredo – Algo precisa ser narrado para que se tenha uma narrativa;
- Tempo – Toda narrativa precisa estar amarrada pro uma linha temporal, mas pode envolver cenas no passado, presente e futuro, dependendo da intenção;
- Lugar – As coisas precisam acontecer em algum lugar. Os ambientes apresentam papéis tão importantes quanto os personagens. Descrever ambientes memoráveis no RPG é uma das chaves para melhorar a narrativa;
- Personagens – São eles que irão participar da ação no mundo ou observar o que está acontecendo. Os protagonistas normalmente serão interpretados pelos jogadores, enquanto o mestre acaba criando e guiando os demais personagens da aventura. O personagem é o elemento mais importante na narrativa do RPG, pois ele que vai conectar os jogadores ao mundo da narrativa e transmitir as emoções, que geram a diversão;
- Causa e Consequência – O motivo pelo qual alguma coisa aconteceu na história e o que isso gerou. Os jogadores explodiram a taverna local? Essa é a causa de eventos futuros (consequências). Como a narrativa precisa de causa e consequência, é muito importante evidenciar isso em aventuras de RPG, mostrando que as decisões dos personagens afetam diretamente o mundo da ficção.
O básico de enredo
Nesse ponto você já deve ter percebido que uma aventura de RPG é uma narrativa. Porém, diferente da escrita de um livro, a aventura de RPG se constrói durante o jogo e a formação do enredo vai sendo realizada a cada sessão.
Apesar do caos que isso ocasiona, é importante lembrar que narrativa precisa de estrutura e vai apresentar situações de conflitos, essenciais para se manter a estética. Uma história básica (e que funciona) vai ter, necessariamente (vou usar a trilogia de filmes O Senhor dos Anéis como exemplo):
- Apresentação – É a introdução da história, com pouca tensão, será um momento de apresentação dos personagens, cenários, tempo, é um momento para localizar todos na história. Pode durar a primeira sessão de jogo toda os só uma parte dela. Nos filmes, é o começo onde a narradora apresenta o mundo e a vivência dos haflings no Condado, a festa e a apresentação do O Anel. A transição para o desenvolvimento escala muito bem nessa história e eu considero a passagem para a fase 2 quando Frodo decide que ele vai levar o anel, um ponto sem retorno para todos;
- Desenvolvimento – O desenvolvimento envolve tudo que os personagens irão fazer na aventura. Normalmente se inicia com uma decisão que não tem mais retorno e sucessivos pontos de conflito irão escalar a tensão na história de acordo com que as sessões de jogo passam. São todas as reviravoltas encontradas pelos personagens no LoTR, desde a aranha gigante, o Balrog e tudo mais;
- Clímax – Quando se acumula uma grande carga dramática, temos o clímax da história, sendo o mais comum enfrentar e derrotar o chefão da aventura. Depois disso a tensão abaixa bruscamente e a história passa para sua finalização. No filme, é a subida final até a montanha para destruir o Anel. Não há um confronto direto com o chefão nesse caso, mas os personagens estão tão surrados quanto se tivesse lutado diretamente;
- Desfecho – O desfecho mostra detalhes do fim da narrativa e se o conflito principal foi ou não resolvido. Na trilogia O Senhor dos Anéis, é de quando as águias buscam os haflings na montanha pra frente, até acabar o filme.
A importância da narrativa no RPG de mesa
Como vimos, as histórias participam das relações humanas e jogar RPG é uma forma de contar histórias em conjunto.
A narrativa se torna importante nos nossos jogos quando estamos buscando criar uma trama envolvente, complexa, com personagens interessantes e memoráveis.
Claro que é possível jogar RPG sem se preocupar muito com a narrativa, somente entrar em uma masmorra, derrotar alguns monstros e pilhar alguns tesouros, no melhor estilo hack and slash. O seu grupo de RPG é que vai definir o que diverte mais a todos, se é uma trama mais elaborada ou algo mais simples, não tente forçar narrativas em jogadores que não estão buscando por elas, é mais fácil trocar de jogadores caso você queira uma história no seu RPG.
Conclusão
Nesse artigo eu busquei apresentar uma visão geral sobre a importância da narrativa em jogos de RPG de mesa. Claro que o tema é muito mais amplo e cada um dos tópicos comentados aqui podem ser expandidos em mais outros diversos artigos, essenciais para a compreensão do todo relacionado a contação de histórias através do RPG de mesa.
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Obrigado por ler e jogue bem para jogar sempre!